Tirada do sono pelo sino da
igreja do bairro que, insistente, chama seus fiéis, pulo da cama e abro a
janela. Lá em baixo, patinadores sincronizados, parecendo patinhos coloridos
com seus estranhos capacetes, ocupam parte da rua ainda deserta dos barulhentos
automóveis. Do lado de lá, sob a marquise, um homem dorme na cama improvisada
com pedaços de espuma ensopados pela chuva da noite anterior. Amarrado ao seu
pé, um carrinho de supermercado contendo seus pertences faz a vez de armário.
No edifício em frente um casal de namorados se despede com um longo beijo, o
que me leva a imaginar os inesquecíveis momentos que tiveram. A banca da
esquina da Rua Lima e Silva com a Sarmento Leite escancara suas portas repletas
de chamativas manchetes. Duas pessoas compram jornais. No mais, tudo é
tranquilidade. A Cidade Baixa ainda dorme depois do agito que balançou o
sábado. Surpreendentemente ensolarado, o domingo convida a um passeio, mas a
manhã é fria e preguiçosa e tudo que me ocorre, agora que os sinos silenciaram,
é voltar pra cama, tapar a cabeça e dormir mais um pouco. Até que o chamado
para a missa das dez me desperte outra vez.
(texto para a coluna semanal do jornal Momento de Uruguaiana em 10/09/2014)