segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Cidade Baixa

Tirada do sono pelo sino da igreja do bairro que, insistente, chama seus fiéis, pulo da cama e abro a janela. Lá em baixo, patinadores sincronizados, parecendo patinhos coloridos com seus estranhos capacetes, ocupam parte da rua ainda deserta dos barulhentos automóveis. Do lado de lá, sob a marquise, um homem dorme na cama improvisada com pedaços de espuma ensopados pela chuva da noite anterior. Amarrado ao seu pé, um carrinho de supermercado contendo seus pertences faz a vez de armário. No edifício em frente um casal de namorados se despede com um longo beijo, o que me leva a imaginar os inesquecíveis momentos que tiveram. A banca da esquina da Rua Lima e Silva com a Sarmento Leite escancara suas portas repletas de chamativas manchetes. Duas pessoas compram jornais. No mais, tudo é tranquilidade. A Cidade Baixa ainda dorme depois do agito que balançou o sábado. Surpreendentemente ensolarado, o domingo convida a um passeio, mas a manhã é fria e preguiçosa e tudo que me ocorre, agora que os sinos silenciaram, é voltar pra cama, tapar a cabeça e dormir mais um pouco. Até que o chamado para a missa das dez me desperte outra vez.


(texto para a coluna semanal do jornal Momento de Uruguaiana em 10/09/2014)