quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O outro lado do abismo


A sensação de “nunca mais” me atropela, fecha a cortina, apaga a última estrela. O gris anula cores, encobre o céu, desbota os pássaros. E assim como não me podes ver eu também não te enxergo. Queria ter escrito versos que brilhassem no escuro e animassem teu corpo antes do frio... A mão treme, o pensamento divaga, a palavra trava no peito. E já não somos. Mas é certo que fomos. Tão certo quanto o silêncio que não me deixa dormir. Quem sabe um dia a distância amorteça e eu retome, por um ligeiro instante, a engenharia mágica de construir pontes para o outro lado do abismo. Algum lugar onde teu poema toque meu ombro com a ponta das asas. Então talvez - e só talvez - eu me resgate da tua ausência. 


M.Cendón 

foto: Dorival Moreira