É dispensável falar dos rios que
atravesso para chegar aqui ou da voragem em que me consumi até os pés
encontrarem firmeza. Não há novidade alguma na dor ou na solidão que enchem os
caminhos. Eu as vejo em cada rosto quando me procuro. Estão lá. E ainda que
sejam distintas, possuem o mesmo peso sobre cada ombro. E sobre cada cabeça que
as sustenta, a mesma sentença de tempo e espera. Então, não conte com relatos
de tempestades e naufrágios, pois o que me corrói está oculto em águas de
navegar sozinha. Venho em busca da linha que divide os mundos, sigo a luz dos
ocasos: lugar de encontro e fuga, proximidade e afastamento. Quero a surpresa
dos remansos. As correntezas já estão em mim.
M.Cendón
(texto a ser publicado na antologia "Escrever é uma alegria" - Editora Alternativa)
M.Cendón
(texto a ser publicado na antologia "Escrever é uma alegria" - Editora Alternativa)