quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Remansos

É dispensável falar dos rios que atravesso para chegar aqui ou da voragem em que me consumi até os pés encontrarem firmeza. Não há novidade alguma na dor ou na solidão que enchem os caminhos. Eu as vejo em cada rosto quando me procuro. Estão lá. E ainda que sejam distintas, possuem o mesmo peso sobre cada ombro. E sobre cada cabeça que as sustenta, a mesma sentença de tempo e espera. Então, não conte com relatos de tempestades e naufrágios, pois o que me corrói está oculto em águas de navegar sozinha. Venho em busca da linha que divide os mundos, sigo a luz dos ocasos: lugar de encontro e fuga, proximidade e afastamento. Quero a surpresa dos remansos. As correntezas já estão em mim.


M.Cendón


(texto a ser publicado na antologia "Escrever é uma alegria" - Editora Alternativa)